segunda-feira, 6 de julho de 2009

Ítalo Calvino

Impressão de Leitura.
Se Um Viajante Numa Noite de Inverno.

Uma leitura que flui e envolve a ponto de tornar impossível não se aconchegar, se entregar e viver o que está ali até o fim.

Existe um identificar-se imediato como leitor. Calvino tem uma enorme familiaridade com o mundo de quem gosta de ler. Conhece esse universo profundamente, é como se tivesse o dom de perceber nossos pensamentos.
A suave angústia que consegue traduzir com tanta naturalidade quando fala dos livros expostos nas prateleiras da livraria, os “Livros Que Você Ainda não Leu”, passando pelos “Livros Que Sempre Fingiu Ter Lido”, até os “Livros Que Procurou Durante Vários Anos Sem Ter Encontrado”, traz a impressão de que já esteve, realmente, dentro da nossa mente quando passávamos por uma livraria. Calvino sabe o que sentimos em relação aos livros, traduz mesmo um relacionamento do leitor com os livros, uma cumplicidade.
Em vários pontos faz lembrar a escrita de Borges, como nesse "vivenciar" o universo dos livros. De fato sua aproximação com Borges é grande: sua forma de encontrar o normal no absurdo remete-nos ao mestre latino da literatura fantástica, assim como também à Kafka. Mas Calvino traz algo de leveza, de divertido, que faz com que sua obra envolva e enlace o leitor; é como se pegasse-nos no colo, nos aconchegando na poltrona de leitura, sugerindo fechar a porta para ler em paz.
Aliás, essa coisa de “sugerir”, esse constante diálogo com o leitor, traz ainda a impressão de não ser o personagem o viajante real da história interminada do conto, mas o próprio leitor que, envolvido pelas palavras direcionadoras do autor, viaja de uma história à outra nas esquinas dessa obra de arte.

Essa foi a impressão: uma viajante nas páginas de um conto envolvente. Cada história interminada, uma parada numa estação de trem.

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