domingo, 13 de setembro de 2009

A humildade científica e o valor na sociedade.

Ensaio

No livro "Como se faz uma tese", Umberto Eco discorre, ao final do quarto capítulo, sobre o que acredita ser a "Humildade Científica". Baseado em sua própria experiência, deixa claro que nem todo o conhecimento de alto valor para nós virá dos "grandes nomes" da literatura. Ao desprezarmos o texto de um "autor menor", podemos perder a oportunidade de constatar que muitas vezes o que buscamos está justamente em quem, aparentemente, tem pouco a oferecer.
Reconhecer que há algo de grande mesmo naquilo (ou naquele) que traz aparência de pequeno, é algo há muito esquecido pela sociedade - não somente a sociedade acadêmica. O mundo científico-tecnológico atual, com toda a sua parafernália midiática em funcionamento, não deixa mais espaço em branco que possa ser preenchido pelo que é humilde.
O valor atribuído a um trabalho, uma pesquisa ou um livro, é do tamanho da repercussão do seu lançamento. Assim, também essa será sempre a medida referencial à atribuição da credibilidade à fonte para quem pesquisa e quer ver a repercussão de seu trabalho.
A "Era do Consumo" em que vivemos ( e essa denominação já foi utilizada por inúmeros pensadores "de renome", como o filósofo francês Gilles Lypovetsky), já deixou suas marcas muito além do âmbito econômico. O valor de cada um está refletido no brilho de sua "embalagem", no seu exterior. A distância entre o núcleo e a periferia torna-se cada vez maior, e o centro de cada ser na sociedade é cada vez menos tocado, pelo medo de se distanciar em demasiado da aparência externa, a "que vende".
Ao encontrar a resposta que buscava num pequeno livro de um "autor menor", num alfarrabista em Paris, Umberto Eco já percebeu, há mais de meio século, que grandes tesouros podem estar guardados em caixinhas de papel sem brilho.

3 comentários:

A disse...

Ivi, muito massa o que tu escreve!

entra lá no nosso, paineldegeneralidades.blogspot.com

beijão!!!
Antônio

Unknown disse...

Eu nunca li esse tal de lipovetsky, e li pouco do eco. Na verdade, li Baudolino, uma ficção que é fascinante. E como a gente conversou naquela noite, não gosto de acreditar nessa dicotomia exterior e interior. Talvez ela exista, mas não consigo ver como uma forma distante, cada um interfere no outro, são diferenciados, mas indicerníveis. Não há todo um charme sedutório quando se está interessado em alguém? E quem o manifesta, o exterior ou o centro?
Quanto aos tesouros das caixinhas de papel sem brilho, concordo um pouco com ele. Mas confesso: difícil saber o que tem brilho e e o que não tem.

Ivi disse...

Pode crer, Bruno... na real, vejo o exterior como uma porta, a qual temos o poder de escolha para abrir ou não, para entrar e alcançar o interior, o centro (que não é algo separado do exterior, mas uma extensão, um aprofundamento do mesmo ser, como a superfície e o fundo do mesmo mar). E acho que é lá onde podemos encontrar o brilho...

Curti seu comentário, acho que fecha com minhas idéias. Respostas, não as tenho!
Beijo.