quinta-feira, 31 de julho de 2008

Sobre a Erudição e os Eruditos

Hoje, dia friozinho e chuvoso na Ilha da Magia, estou lendo Schopenhauer - aliás, muito bom para acompanhar um chazinho esfumaçante com biscoitos de chocolate, nos últimos dias das férias de julho...

"Entre os professores e os eruditos independentes existe, desde muito tempo atrás, um certo antagonismo, que talvez possa ser esclarecido pela comparação com aquele que existe entre os cães e os lobos.
Os professores têm, pela posição que ocupam, grandes vantagens relativas ao reconhecimento por parte de seus contemporâneos. Em contrapartida, os eruditos independentes têm, pela posição que ocupam, grandes vantagens relativas ao reconhecimento por parte da posteridade, porque esse segundo tipo de reconhecimento exige, entre outras coisas muito raras, também um certo ócio e uma certa independência.
Como demora muito para que a humanidade chegue a descobrir a quem ela deve conceder sua atenção, o professor e o erudito independente podem realizar seu trabalho paralelamente.
De um modo geral, a forragem da cocheira dos professores é a mais apropriada para esses ruminantes. Em contrapartida, aqueles que recebem o seu alimento das mãos da natureza preferem o ar livre."

"Sobre a Erudição e os Eruditos". Arthur Schopennhauer
Tradução de Pedro Süssekind
Bom esse chazinho com biscoitos, né :)

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Traçando Paris


Lumière
Pastel Seco

Por falar em Paris, depois de ler o jornal me lembrei de um livro bem gostoso, e resolvi compartilhar um pouquinho :)

"Estávamos longe de casa, não havia mais metrô, meu orçamento não comporta táxis e os ônibus são um pouco como os bistrôs bons e baratos de Paris: todo mundo sabe que eles existem, mas ninguém ainda encontrou um, na realidade. Foi quando tive a idéia. Telefonei para o Gianni Agneli, a cobrar.

_ Gianni, meu velho! Te acordei?

_ Que nada!

_ Estou telefonando de Paris.

_ Como é que tá a coisa aí?

_ Bom, bom. Um pouco quente...

_ O que manda?

_ Gianni, você sabe como é Paris. Depois da uma hora não há como sair de casa.

_ Cidade pequena é assim. Aqui em Turim isso não acontece.

_ Rá, rá. O fato é que...

_ Não precisa dizer nada. Vou mandar um helicóptero.

_ Helicóptero não, Gianni! Pode ser um carro.

_ Vou mandar um helicóptero levar um carro.

_ Ah. Eu sabia que podia contar com você.

_ O que é isso. Quando precisar de uma carona de avião para qualquer lugar, é só dizer.

_ Eu sei, eu sei.

_ Quem é que está falando?

_ Luis Fernando. Você não me conhece.

_ Certo. Onde é que está, mesmo?

_ Esquina do Champs Élysées com a Marbeuf.

_ Dez minutos, o carro está aí.

_ Obrigado, Gianni! E pensar que no Brasil criticaram o fato de gente do governo aceitar seus favores quando vem à Europa. Só porque você tem negócios no Brasil.

_ O Brasil é assim mesmo.

_ Não sabem que você faz isso pra qualquer um!

_ O que se vai fazer? Dez minutos. Qualquer coisa, telefone outra vez. E olha: pode ficar com o carro.

_ Obrigado, Gianni meu velho!











"Préstimos", Luis Fernando Veríssimo.

Traçando Paris, 1992. pg.99









segunda-feira, 28 de julho de 2008

Fragmento de Surrealismo

Aí vai um trecho do livro que li na viagem de férias de inverno, um fragmento de surrealismo.
" Jái pris, du premier au dernier jour, Nadja pour un génie libre, quelque chose comme un de ces esprits libre de l'air que certaines pratiques de magie permettent momentanéament de s'attacher, mais qu'il ne saurait être question de se soumettre. Elle, je sais que dans toute la force du terme il lui est arrivé de me prendre pour un dieu, de croire que j'étais le soleil. Je me souviens aussi - rien à cet instant ne pouvait être à la fois plus beau et plus tragique - je me souviens de lui être apparu noir et froid comme un homme foudroyé aux pieds du Sphinx. J'ai vu ses yeux de fougère s'ouvrir le matin sur un monde où les battements d'ailes de l'espoir immense se distinguent à peine des autres bruits qui sont ceux de la terreur et, sur ce monde, je n'avais vu enconre que des yeux se fermer."


" Do primeiro ao último dia, tomei Nadja por um gênio livre, algo como um desses espíritos do ar que certas práticas de magia permitem momentaneamente fixar, mas em caso algum submeter.
Sei que ela, com toda a força do termo, chegou a me tomar por um deus, a crer que eu fosse o sol. Lembro-me também - e nada naquele instante podia ter sido ao mesmo tempo mais belo e mais trágico -, lembro-me de lhe ter aparecido negro e frio como um homem aterrado aos pés da Esfinge. Vi seus olhos de avenca se abrirem de manhã para um mundo em que as batidas de asas da esperança imensa pouco se distinguiam dos ruídos do terror, mundo sobre o qual só havia visto olhos se fecharem."
Trecho do Livro Nadja, André Breton.
Sem comentários linguísticos para o momento.
...a não ser o eco do vazio sonoro produzido pelas palavras na mente de quem tenta compreender o que não se entende, se sente... sente... sente...

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Nadja
Grafite e Guache
Ivi



..."Elle me dit son nom, celui qu'elle s'est choisi:
Nadja, parce qu'en russe ce le commencement
du mot espérance, et parce que ce n'en est que le commencement."

André Breton, "Nadja". 1964. pg. 66
Autor do Manifesto do Surrealismo, que deu origem ao movimento.

..." Ela me disse seu nome, aquele que escolheu para si mesma: Nadja, porque em russo é o começo da palavra esperança, e por que é apenas um começo."