quarta-feira, 30 de julho de 2008

Traçando Paris


Lumière
Pastel Seco

Por falar em Paris, depois de ler o jornal me lembrei de um livro bem gostoso, e resolvi compartilhar um pouquinho :)

"Estávamos longe de casa, não havia mais metrô, meu orçamento não comporta táxis e os ônibus são um pouco como os bistrôs bons e baratos de Paris: todo mundo sabe que eles existem, mas ninguém ainda encontrou um, na realidade. Foi quando tive a idéia. Telefonei para o Gianni Agneli, a cobrar.

_ Gianni, meu velho! Te acordei?

_ Que nada!

_ Estou telefonando de Paris.

_ Como é que tá a coisa aí?

_ Bom, bom. Um pouco quente...

_ O que manda?

_ Gianni, você sabe como é Paris. Depois da uma hora não há como sair de casa.

_ Cidade pequena é assim. Aqui em Turim isso não acontece.

_ Rá, rá. O fato é que...

_ Não precisa dizer nada. Vou mandar um helicóptero.

_ Helicóptero não, Gianni! Pode ser um carro.

_ Vou mandar um helicóptero levar um carro.

_ Ah. Eu sabia que podia contar com você.

_ O que é isso. Quando precisar de uma carona de avião para qualquer lugar, é só dizer.

_ Eu sei, eu sei.

_ Quem é que está falando?

_ Luis Fernando. Você não me conhece.

_ Certo. Onde é que está, mesmo?

_ Esquina do Champs Élysées com a Marbeuf.

_ Dez minutos, o carro está aí.

_ Obrigado, Gianni! E pensar que no Brasil criticaram o fato de gente do governo aceitar seus favores quando vem à Europa. Só porque você tem negócios no Brasil.

_ O Brasil é assim mesmo.

_ Não sabem que você faz isso pra qualquer um!

_ O que se vai fazer? Dez minutos. Qualquer coisa, telefone outra vez. E olha: pode ficar com o carro.

_ Obrigado, Gianni meu velho!











"Préstimos", Luis Fernando Veríssimo.

Traçando Paris, 1992. pg.99









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