Lumière
Pastel Seco
Por falar em Paris, depois de ler o jornal me lembrei de um livro bem gostoso, e resolvi compartilhar um pouquinho :)
"Estávamos longe de casa, não havia mais metrô, meu orçamento não comporta táxis e os ônibus são um pouco como os bistrôs bons e baratos de Paris: todo mundo sabe que eles existem, mas ninguém ainda encontrou um, na realidade. Foi quando tive a idéia. Telefonei para o Gianni Agneli, a cobrar.
_ Gianni, meu velho! Te acordei?
_ Que nada!
_ Estou telefonando de Paris.
_ Como é que tá a coisa aí?
_ Bom, bom. Um pouco quente...
_ O que manda?
_ Gianni, você sabe como é Paris. Depois da uma hora não há como sair de casa.
_ Cidade pequena é assim. Aqui em Turim isso não acontece.
_ Rá, rá. O fato é que...
_ Não precisa dizer nada. Vou mandar um helicóptero.
_ Helicóptero não, Gianni! Pode ser um carro.
_ Vou mandar um helicóptero levar um carro.
_ Ah. Eu sabia que podia contar com você.
_ O que é isso. Quando precisar de uma carona de avião para qualquer lugar, é só dizer.
_ Eu sei, eu sei.
_ Quem é que está falando?
_ Luis Fernando. Você não me conhece.
_ Certo. Onde é que está, mesmo?
_ Esquina do Champs Élysées com a Marbeuf.
_ Dez minutos, o carro está aí.
_ Obrigado, Gianni! E pensar que no Brasil criticaram o fato de gente do governo aceitar seus favores quando vem à Europa. Só porque você tem negócios no Brasil.
_ O Brasil é assim mesmo.
_ Não sabem que você faz isso pra qualquer um!
_ O que se vai fazer? Dez minutos. Qualquer coisa, telefone outra vez. E olha: pode ficar com o carro.
_ Obrigado, Gianni meu velho!
"Préstimos", Luis Fernando Veríssimo.
Traçando Paris, 1992. pg.99
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